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quinta-feira, outubro 28, 2010

Trabalhar com o pai...

Eu sempre me senti muito culpado por ser sustentado pelo meu pai.

Por ser alimentado pela minha mãe. Por eles terem me criado e ficado comigo por todo esse tempo. Sentia assim, que eu devia algo a eles... Um favorzão, ou quem sabe, a minha dívida eterna para com eles. É... mais a segunda que qualquer outra. Já era esperado isso de mim, certo?

Eu sei que é exagero. Eu entendo que é estranho e imbecil, mas eu não tenho como evitar. Durante boa parte da minha vida, eles me diziam que eu tinha que respeitá-los, porque eles me criaram e pagaram a escola, e tudo mais. Eu me sentia horrível por não poder recompensá-los... Era como se eu tivesse 30 anos e fosse sustentado pelos pais... O problema é que eu só tinha 12.

:'(  :-)

E aquilo se estendeu por anos... Sempre sendo o preguiçoso... O que não estava ligando pra nada, pra vida, pros estudos... O que é engraçado, porque na vez que a minha mãe me levou numa psicóloga natural, a primeira coisa que ela fez, foi olhar os meus olhos. E dizer: "ah, eu posso ver que tu se importa com as coisas...". E a minha mãe disse pra ela: "Eu acho que tá errado, ein. Ele não se importa com nada..." E eu fiquei quieto sentado na cadeira, enquanto a mulher fingia interesse sobre aquilo que a minha mãe contava pra ela. E eu permaneci calado... O tempo todo. Ela me mandou beber mais água. Pra me animar. Vaca.

Quem acessa esse blog e lê suas postagens, sabe que eu super-valorizo as coisas. Esse próprio post é um exemplo disso.

E finalmente o meu pai me pediu pra ir trabalhar com ele... E ele disse que eu tinha o direito de escolher se eu queria ou não, mas que se eu quisesse, a minha vida ia ser bem mais fácil, e se não, eu ia ter que me virar pra pagar os meus cursos, porque ele não ia ficar me sustentando desse jeito. E eu escolhi não trabalhar, eu tinha receio do que os outros funcionários iam dizer de mim, por ser privilegiado, por estudar em escola particular, por ser um merda mimado. Eles iam me julgar? Me excluir? Eu achava que sim... Eu não queria isso pra mim. Era uma coisa ruim, a vida tinha mesmo que ser assim? Tá, parei.
E eu entrei em depressão profunda naquela época... Aí o meu pai começou a me levar no centro espírita, porque aquilo que eu tinha era obra de algum espírito ruim. O meu pai é engraçado. De um jeito não-legal. Nada legal.

E ele começou a passar um tempo comigo toda terça-feira de noite. Ir escutar um cara palestrar enquanto tocava a Moonlight Sonata, me fazia ficar muito triste mesmo. Eu sentia cada acorde daquela coisa me acertar em cheio... Era lindo. E horrível. Um tempo com o meu pai. Uma coisa que eu nunca tinha tido na minha vida. Era bom... Era... muito bom.

:"( " " " '

Ele usou esse artifício pra me convencer a trabalhar com ele. Do tipo, sacana. E eu fui... Eu aceitei. E comecei a trabalhar esquadrejando peças, na posição mais baixa do meu trabalho ali. E eu dei meu sangue naquilo...

Gotas de suor escorriam pelo meu rosto todos os dias... Por várias vezes, eu acreditei que eram gotas de sangue. Meu sangue. Sangue nobre sendo derramado por amor a algo que eu não podia compreender... Uma Guerra Santa contra mim próprio. Tá, parei.

Enfim, com todo esse esforço, eu evitei de ser taxado como mimadinho lá dentro, ou de ser excluído. Porém o fato de ir todos os dias pra garagem tirar o guarda-pó, faz com que eu me diferencie deles, o que causa incômodo. Acredito, que eles já tenham se acostumado à isso...

Eu não gosto de dizer que trabalho com o meu pai. Não é orgulho nenhum pra mim, ter uma vantagem sobre os outros. Na verdade, é uma vergonha... Por ter me recusado a lutar como todos os outros, eu mantenho esse fato no anonimato. Apesar, de ter orgulho daquilo que o meu pai construiu. Do pó, ao ouro. Digno.

Com o tempo eu adquiri responsabilidade, respeito, amizade lá dentro. Foi algo bom... Eu pretendo realmente assumir a empresa e fazê-la crescer como nunca antes... O que impedia o meu pai de fazer isso, era que ele só precisa do trabalho pra nos sustentar... Ele prefere deixar de ganhar muito dinheiro, pra ganhar o suficiente... Ele não quer crescer. Pra ele tá bom assim, os funcionários vêm e vão, mas ele continua lá... Mas pra mim não é assim. Eu tinha dois anos quando ele montou a empresa no porão. Eu andava por entre suas máquinas e convivi todos os dias úteis e alguns fins-de-semana da minha vida com o barulho da máquinas e seu corte de metal maligno. Eu vivi essa empresa e por mais que o Ricardo, o membro mais antigo, e meu amigo, esteja há 10 anos nela, eu estou há 16... O membro mais antigo de verdade.

Enfim, esse era pra ser o verdadeiro post sobre os dois anos de trabalho. Mas eu não pude pensar nele a tempo. Malz aí. Até a próxima.

Um comentário:

Lucas disse...

Um elogio pra variar: os teus posts estão lentamente adquirindo certo valor literário. (ui, eu vou pra Harvard)