Siga o Vini no Twitter

quarta-feira, outubro 13, 2010

Noites de sono e crença

São claras como água as lembranças que eu tenho nas noites de minha infância.

Era um anoitecer muito traumático, em que sofria por ter medo das sombras e da escuridão.
Mas era um medo meio sobrenatural... Eu escutava coisas de noite e sentia que havia alguém dentro de casa que tiraria a minha vida enquanto eu dormisse. O meu maior medo de toda a infância. Ladrões.

Claro... Sempre que eu assistia algum filme de terror, tinha dificuldade em ir sozinho ao banheiro, ou ficar muito tempo no escuro... Essas coisas me perturbavam bastante também.

E então, no auge da loucura, eu tinha que fazer alguma coisa pra contornar a situação e conseguir dormir sossegado. Assim, eu criei formas de manter os maus espíritos longe de mim, fazendo tratos com os mesmos. Começou assim:

O número de minutos que eu ficar com os braços pra cima na cama, será igual ao tempo em que vocês me deixarão em paz. E foi assim por muito tempo, sempre esperando que eu pegasse no sono.
E evoluiu pra uma série de gestos que eu fazia antes de dormir, que garantiria que eu não fosse atacado. Eu proferia na minha mente as palavras "normal" - que se referia ao modo de jogo. "sem limite de tempo" - uma forma de fugir da primeira forma citada anteriormente. Aí vinha "um, dois, três" e eu estalava os polegares três vezes. Praticamente uma macumba.

Com o tempo, eu fui parando de fazer isso e cada vez mais desacreditando no efeito dessas coisas. Até um dia, em que eu poderia jurar ter visto uma menina de vestido branco de pé na frente da minha cama. E eu comecei a rezar de noite. "Em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém. Obrigado pelo dia de hoje. Em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém." E eu fingia que essa reza criava um escudo de força, que não permitia que nenhum mal ultrapassasse, e quem fosse encostá-lo, com seu espírito maligno, seria imediatamente pulverizado. Nessa época eu podia assistir filmes de terror sem problema. Porque eu sabia que com o meu escudo, eles não iam poder me atacar de noite.

Até eu começar a olhar as sombras no teto do meu quarto de noite. E ver que elas aumentavam e diminuiam de uma forma muito estranha. Eu não tinha medo nem nada... Era só estranho.

Eu parei de acreditar em Deus... Por motivos racionais que eu sei que a maioria aqui entenderia... E eu não acreditava mais em papai noel, nem em coelhinho da páscoa, então não fazia sentido aquela religião. Eu nunca fiz catequese... Nem gostava da igreja, então pra mim aquilo não fazia falta nenhuma. Eu sempre escutei músicas que pregavam o contrário do que a religião dizia, e eu sempre gostei mais dessas músicas... Então acreditar pra mim não fazia sentido, nem era interessante.

Só que é um fato, de que a solidão que me aperta nesses dias complicados, seria solucionada com algo superior, com o qual eu pudesse fingir que converso durante a noite. Mas uma vez não acreditando, você nunca mais vai. E só me resta vagar por aí, à procura de algumas almas... E daquele menino que tinha tanto medo das sombras, eu me tornei amante das mesmas. A escuridão me parece tão atraente... Come to the dark side...

Final imbecil. Imbecil.

Nenhum comentário: