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domingo, junho 13, 2010

Palavras que cortam.

Palavras cortam mais do que a mais afiada das navalhas. Eu provei isso a algum tempo.

Esse é o texto que eu prometi que ia escrever. Que melhor hora seria, se não aquela em que a depressão me leva até o inferno? Não. Essa é a pior hora pra mim contar isso. Mas eu não ligo. Vamos lá.

Eu ainda me lembro claramente daqueles dias. Acredito que eu nunca esquecerei daquelas palavras. Ela entraram fundo no meu coração e se contorceram lá dentro e foi aí que o pequeno Vini se perdeu. E o pior de tudo é que a culpa não foi minha afinal.

Eram dias tempestuosos naqueles tempos onde o meu pai tentava fazer com que eu trabalhasse com ele. E apesar de eu saber o que me aguardava, eu vivia conflitante com o sentimento de pena que eu tinha para com ele.

Eu costumava me colocar em seu lugar. Um pai de família que sacrificou tudo pra ter e pra dar uma vida melhor. Sacrificou seu afeto. Sacrificou seu carinho. Sacrificou sua alma pelo que ele achava certo. Até que ele sacrificou seu coração.
Mas tudo isso tinha seu propósito. Proporcionar a melhor vida possível pra aqueles que viviam ao seu redor. E ele conseguiu por um bom tempo.

Naqueles dias em que ele gritava comigo, porque eu dizia que não ia trabalhar com ele, o senhor pai costumava dizer que eu tinha várias opções. Que se eu não gostasse, eu não precisava ficar lá. Que se eu não quisesse, eu não teria que ficar com a metalúrgica que ele trabalhou por 15 anos. Mas era tudo mentira.

Um dia inconformado com mais uma negação, ele me disse que eu era muito diferente dele. Que eu não era mais filho dele. Que eu não merecia tudo aquilo que ele tinha conquistado. E aquilo doeu. Muito mesmo.

Eu queria que o meu pai fosse feliz.
Eu queria que todo mundo ao meu redor fosse feliz. Mas não era assim. Então eu resolvi que eu ia trabalhar com ele. E assim o velho ficaria feliz e eu ia ser um bom filho pra ele. Mas quanto mais eu me esforçava lá, quanto mais eu suava e me matava de trabalhar, mais ele exigia de mim. E chegou num tempo em que as pessoas começaram a comentar o quanto eu tinha emagrecido.

Eu só me lembro de trabalhar de segunda a sexta, e às vezes no fim de semana, num ciclo sem fim de dor e sofrimento. Eu estava no inferno e o capeta tinha me convidado pra entrar. E eu, que queria agradar o capeta, entrei de bom grado. Estúpido. Estúpido idiota. Besta. Burro.

Daí eu saí daquela função em que eu trabalhava. E passei a passar o dia olhando tudo o que o Douglas fazia. E um dia ele pediu demissão. Talvez porque ele no fim das contas, não gostava de mim. Ele não queria ser meu amigo. E eu tive que fazer tudo sozinho, dali em diante. E o capeta viu que eu tinha algum talento naquele lugar, e por um breve momento na história, ele ficou feliz. Para depois vir com mais problemas que eu nunca quis ouvir. Problemas que podiam te sido evitados. Às vezes eu me pergunto se valeu a pena ser considerado filho dele. Eu podia ter saído de casa. Viver em algum lugar. Largar a escola, que eu tanto queria deixar naquela época.

Ainda me lembro das noites em que ele trabalhava em casa, até a meia noite, uma da manhã. E eu ficava penteando o cabelo da minha mãe, e contando histórias pra ela das minhas aventuras como detetive. E eu me perguntava que horas o meu pai ia subir pra dormir... Mas ele não vinha. E eu não ligava, porque eu queria ficar ali contando aquelas histórias. Eu tinha muito medo do escuro e de ficar sozinho no meu quarto.
Eu ainda tenho medo de ficar sozinho. Um medo que cada vez mais se torna real.

O que me lembra da minha mãe.
Sempre muito atenciosa. Ela era a pessoa que eu mais gostava no mundo inteiro. A melhor. E ela gostava muito de mim também, por causa das histórias. Porque ela via o pai dela em mim. O meu vô. E ela tinha muita esperança de que um dia eu me tornaria alguém importante e faria muita diferença por aí.
E o tempo foi passando e eu fui crescendo. E aquele garotinho bonitinho foi se transformando num monstro. E aquele monstro não era nada de mais. Era uma vergonha. Uma piada.

E a última pessoa que eu queria desapontar no mundo, a minha mãe, perdeu as esperanças sobre mim.
Um dia ela disse, que preferia quando eu era pequeno. Eu era mais bonitinho e não fazia nada de mal.
E então aquilo acabou comigo. Eu senti que não era nada na vida. Que ninguém se importava comigo, porque eu não era nada. E eu podia ser tudo. Eu sabia que eu podia.

No começo desse ano ela repetiu o que ela tinha dito. Que preferia quando eu era pequeno. Até porque o fato de eu ser feio me perseguiu por toda a minha vida até agora. Aquilo foi horrível, porque era a minha própria mãe que dizia essas coisas.

Eu me lembro quando tudo começou. Quando eu penteava os cabelos da minha mãe, eu não percebia que o meu pai fazia tanta falta assim. Até que o meu tio veio falar comigo, e teve uma discussão na cozinha de casa, que o meu pai trabalhava de mais e que eu precisava dele. Foi aí que eu percebi porque eu ficava tão triste. E aquela bola de neve de tristeza vai crescendo desde aquela época. E eu estou no fim do caminho dela, esperando pra ser esmagado.

E quando eu me for, ninguém chorará. Porque ninguém se importa.
Ninguém notará, e viverão suas vidas normalmente. Pois são todos robôs em seu mundo mágico.
No futuro comprarão um filho que não cresce e que faz todas as atividades que são pedidas com perfeição. É um ótimo amigo e se comunica muito bem com as pessoas. Tem um blog onde muitas pessoas visitam e todos gostam muito dele. Um filho perfeito. Um robô perfeito.
E ele será elogiado, quando comparado ao filho inútil antigo. Que trazia apenas decepções e derrotas. Mas o robô não ia anotar isso na memória dele.
Seria informação inútil.

Taí o texto que queriam. Provavelmente vão achar uma droga, como tudo o que eu faço nesse blog. E se acharem, não vai ser nenhuma surpresa, afinal tudo o que eu faço é uma grande inutilidade.

38 comentários:

Pffrech disse...

Bom, as postagens desse blog iam de mal a pior... Mas, surpreendentemente, essa foi a melhor postagem em muito tempo mesmo.

Tipo, nas outras era só um mimimi de burguesinho baitolinha, mas nessa aqui tu realmente conseguiu relacionar muito bem mesmo como os pequenos acontecimentos da infância são capazes de se tornarem eventos gigantescos e destrutivos na vida adulta. Foi, de certa forma, uma postagem muito corajosa também. Parabéns. Essa foi foda. Eu quase chorei.

~ Kitsune disse...

Eu chorei...
"Um dia inconformado com mais uma negação, ele me disse que eu era muito diferente dele. Que eu não era mais filho dele. Que eu não merecia tudo aquilo que ele tinha conquistado." - eu já escutei isso e com essas mesmas palavras. Foi bem ruim...

Vini disse...

Isso tudo me lembra aquele dia na aula, em que o Léo me perguntou porque eu era assim, e eu disse quase tudo isso pro grupo em que a gente tava.

Lembrando que eu odeio muito o Léo por causa disso.

Mas eu odeio ele de um jeito que nós continuamos sendo amigos. Eu não sei como.

Pffrech disse...

Aquele dia foi assustador. Sinceramente, eu já estava esperando uma ligação dizendo que o Vini havia cometido suicídio. Mas isso não aconteceu e houve grande alegria.

Letícia disse...

Oi, estranho. Não peça como parei no seu perfil e resolvi ler seu blog - não é um fato interessante nem memorável, portanto já esqueci. O que importa mesmo é que eu li seus posts e, sei lá, uma coisa se movimentou em mim, e eu precisei realmente comentar. A sensação que tenho, lendo esse último post, é a mesma que me incomoda toda noite, quando acordo de repente e sei que não quero estar ali de novo, na próxima noite. Necessidade de liberdade. Foi a primeira coisa em que pensei. Eu escrevo. Nada útil, nada que realmente faça diferença, mas eu sei como é difícil ler algo e achar o que leu completamente honesto. As pessoas tendem a fugir de si mesmas, se esconder em máscaras das próprias almas, mas o teu texto tem uma puta honestidade. E me fez bem. Por mais estranho que pareça. E é isso. Melhor eu parar, porque tô me achando, sinceramente, pior que recepcionista de motel de quinta categoria: esfarrapada, sorrindo bobo e usando clichês demais. Se tu entendeu, não liga; na maioria das vezes eu também não entendo. Ou sim - talvez eu seja só mais uma hipócrita. Enfim, é. Continue escrevendo essas inutilidades, porque há pessoas - ou pelo menos uma, que o escreve - que é ainda mais inútil a ponto de ler, gostar, e escrever um comentário desses. Hm. Isso. Gostei, mesmo. Ah, sobre o link: nem perca tempo. Só deixei porque o espaço em branco estava me encarando, fucking retângulo entorpecente. QUÊ.

Vini disse...

Letícia, obrigado pelo seu comentário. Eu realmente ganhei o meu dia com ele.
Creio que você tenha esquecido de deixar qualquer link.
Retângulos entorpecentes devem tê-la confundido mais do que pensava. Porém, eu fiquei interessado em saber o que era.

Vini disse...

Creio que o link veio junto com o seu nome. Ok. Acho que foi isso.
Desculpa se eu sou burro. \o/

Pffrech disse...

MEU DEUS. Eu não sei o que me surpreendeu mais: o fato de essa nova leitora ter se identificado com o blog do Vini ou o fato de esse blog ter mais do que quatro leitores.

Pffrech disse...

"Author has written 19 stories for Harry Potter, and Twilight."

Err... É Vini, poderia ter sido algo melhor. Bem que poderia.

Matheus disse...

"E ela tinha muita esperança de que um dia eu me tornaria alguém importante e faria muita diferença por aí."
E tu acredita que pode fazer muita diferença por aí?

Vini disse...

Por aqui sim, por aí eu não sei.

Matheus disse...

Então tá.

Letícia disse...

Podia?
Então tá.

Letícia disse...

Ao menos não pareço ter saído de um romance do Dickens. Sem ofensa.

Pffrech disse...

Esse último comentário foi direcionado a quem exatamente? Se foi para mim, eu gostaria de uma explicação sobre o significado disso. Desculpa se eu sou burro.

Vini disse...

Pra começar o nome do cara é Dickens. Ou seja, ele tem realação direta com um "dick".
Não pode ser coisa boa.

Vini disse...

E Pedro, seja mais educado com as pessoas novas no blog. Nunca se sabe que tipo de arma elas têm em casa.

Pffrech disse...

Bom, na verdade eu sei quem é a referida pessoa, é o escritor americo de livros como "Um Conto de Duas Cidades" e aquele outro do fantasma do natal passado... Mas eu não estou familiarizado com o universo particular do autor. Eu imagino que o que a distinta nova leitora quis dizer é que eu sou louco ou velho e amargurado, mas isso não passa de mera especulação.

Aguardo pelo desenrolar das informações.

Letícia disse...

Começando a me divertir com as controvérsias. Sim, o comentário era dirigido a quem ficou confuso com este. Sim, a nova leitora quis fazer alusão a isso mesmo, apreciando muito o comentário sobre ser mera especulação.
Por favor, avise se tiver tuberculose, viver enregelado (se bem que, por experiência, Caxias não é assim tããão frio) ou vive na condição de órfão absoluto. Apreciaria saber que, indiretamente, estou conhecendo uma personagem do século XIX no XXI.
Sobre o nome dele, Vini, sempre achei sugestivo. Concordo com o comentário sobre armas. Daqui até aí é um pulinho.
Desculpa, não consegui fazer uma piadinha psicótica. Mas a intenção foi essa. :/

Pffrech disse...

Bom Vini... Isso tudo serviu pelo menos pra mostrar que o sexo não está tão longe assim, mas isso, é claro, depende do que a distinta nova leitora considera como "um pulinho".

Pffrech disse...

E, só para registrar nos anais da história desse blog, que essa é de longe a postagem com o maior número de comentários.

Letícia disse...

"...o sexo não está tão longe assim..."

não há mulheres por aí? Descoberta frustrante.

Pffrech disse...

Oh, elas existem sim. Mas, excluindo uma, nenhuma delas daria para o pequeno Vini. Ou para mim.

Ps: Desculpe a baixaria que esses comentários se tornaram Vini. Mas você ainda vai me agradecer.

Vini disse...

Já chega.
"Mas, excluindo uma, nenhuma delas daria para o pequeno Vini."

Sério. Já chega.
E Letícia, ignore o Pedro. Ele pode ser jovem e inteligente por fora, mas por dentro ele é velho, amargurado e se tranca acidentalmente dentro do escritório em casa enquanto assiste sacanagens no computador. Ou seja, é um burrão que não sabe nem beber direito.
Agora, Pedro, tu me perguntas o porquê dessa agressão gratuita?
Está entre aspas ali em cima. Bobão.
OWNED.

Matheus disse...

Com "um pulinho" ela quis dizer 190 km.

Vini disse...

É que ela pula beeem alto.

Pffrech disse...

Esse comentário não foi digno o suficiente para tu escrever "OWNED" no final, mas mesmo assim, machucou... Machucou mesmo...

Vini disse...

O OWNED foi por causa do "bobão". Hehehe.

E eu não vou fazer piadinhas sobre o fato de eu ter te machucado. Não vou.

Tá, já fiz.

Guilherme BoaVista disse...

Levante-se Vini, levante-se!

Pffrech disse...

Essa postagem está tomando rumos novelescos pois, senhoras e senhores, percebam que o meu nêmesis acabou de ser incluído na discussão.

Anônimo disse...

Hey,hey,hey O Pedro é puta rei.

Fica quietinho,fica.

Pffrech disse...

A julgar pela falta de espaços após a pontuação, posso apenas dizer: parabéns, Humberto.

Anônimo disse...

Brigado, cuzão.

Anônimo disse...

Eu não quis dizer cuzão,eu quis dizer fica quietinho,fica... mas como eu já disse, deixa quieto.

Pffrech disse...

Parabéns, Anônimo... Cof cof Vini cof cof.

Anônimo disse...

Ta certo. Eu admito. Eu sou gay.

Ass: Léo.

Pffrech disse...

Hehehehe, bela referência.

Vini disse...

É... mas não era eu ali.
Eu não sou idiota o suficiente pra ficar xingando alguém como anônimo no blog de um fracassado...